Peça em um ato.

testinho à toa

_120 baforadas
_Como?
_Você demorou cento e vinte baforadas para me dizer adeus.
_Eu não fumo.
_Nem eu, mas aquele senhor ali fuma.
120 baforadas, 20 cigarros. Duas horas e vinte minutos a menos em sua vida. Você me fez morrer duas horas e vinte minutos apenas para dizer adeus?
_Adeus é uma palavra engraçada, ela só tem um salto na língua. A-deus, primeiro estático, para depois pular ao céu da boca e finalizar cerrando os dentes.
_Você não se importa não é? O que são duas horas na vida de um miserável?
_Você poderia ter ido embora.
(...)
_ Sei que tens outra.
_Blasfêmia!
_Sei bem que tens!
_Qual? Que rosto poderia ser mais infame que o seu? Que ar me sobra para respirar se não o seu?
_Ares forasteiros, vieram com a brisa da estação.
_Ficou louca?
_No minuto em que a vi! Não se lembra dos beijos que não foram meus? Do dia em que esta cama amanheceu fazia?
_Não, não creio, estava entorpecido! Devo ter sonhado contigo, gritado seu nome!!
_Mas foi outra que respondeu...
_Juro que não a vi, juro que não fiz por mal.
_Nisso eu acredito. Certamente não pensou em mau algum , quis apenas o bem. O SEU bem!
_Não vai assim, é apenas de você que eu preciso.
_Não adianta.
_Já disse, estava bêbado...
_Não dizem que são os loucos e bêbados os únicos sinceros?
_ Mas se você for, para onde eu vou? Que hei de fazer? O que... O que é isso?
_Um fósforo.
_Para qual?
_Para acender seus cigarros
_Mas eu não fumo
_Terá muitas baforadas para contar enquanto me vê partir, e espera outra surgir.